Enquanto uma tartaruga-verde ferida em Fernando de Noronha ganhou uma verdadeira operação de resgate, sendo transportada de avião pela Força Aérea Brasileira até o Rio Grande do Norte para receber tratamento veterinário especializado, pacientes do Hospital Deoclécio Marques, em Parnamirim, enfrentaram nesta terça-feira (19) o cancelamento de cirurgias ortopédicas por falta de materiais básicos.
No hospital, acompanhantes relatam drama e indignação. Milena Medeiros, que acompanha o marido internado há oito dias após um acidente de moto, foi informada do cancelamento apenas na hora do procedimento. “Ele já estava pronto para a cirurgia, mas disseram que não tinha material nem para o procedimento, nem para a limpeza. A gente está aqui sem higiene e sem alimentação”, desabafou.
Casos semelhantes se repetem entre os corredores do hospital. Rayane Carvalho, que acompanha o ex-marido de 72 anos, cobra prioridade para pacientes idosos e com comorbidades. Já Thales Silva, amigo de um paciente com fratura no braço, denuncia que acompanhantes estão limpando banheiros e leitos por conta própria, diante da paralisação dos terceirizados responsáveis pelos serviços básicos.
A Secretaria Estadual de Saúde informou que a interrupção ocorreu devido ao atraso no repasse de valores à empresa terceirizada responsável pelo fornecimento de insumos. O pagamento teria sido realizado nesta segunda-feira (18), o que, segundo a pasta, deve normalizar os serviços de limpeza e garantir a retomada das cirurgias.
Enquanto isso, a tartaruga resgatada recebeu atenção especial. O animal, que sofreu três ferimentos graves causados por hélices de embarcação, está sob os cuidados do Centro de Estudos e Monitoramento Ambiental (Cemam) e do Projeto Cetáceos da Costa Branca da UERN (PCCB). Segundo especialistas, apesar da gravidade, há boas perspectivas de recuperação.
O contraste expõe uma contradição dolorosa: no mesmo Estado em que esforços logísticos e institucionais foram mobilizados para salvar um animal marinho — ação legítima e louvável do ponto de vista ambiental —, seres humanos aguardam cirurgias essenciais em condições precárias, sem a mesma urgência e prioridade.
👉 O episódio levanta um questionamento inevitável: até que ponto o Rio Grande do Norte consegue equilibrar sua atenção entre a preservação ambiental e o cuidado com a vida humana?
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