Não é demais dizer que o potiguar Ignácio, zagueiro do Fluminense, sairá da Copa do Mundo de Clubes com um tamanho bem diferente do que entrou. A irregularidade ficou pra trás e o então reserva do setor defensivo se mostrou pronto para o cumprimento das suas funções, independente da dificuldade ou pressão que a partida se ofereça. Tudo isso após “visita inusitada” de um morador de rua que invadiu o quarto do jogador na sua ausência.
O episódio ocorreu após a segunda rodada da competição. A delegação retornava para a base montada em Columbia e a surpresa do atleta, que não fala inglês, foi grande ao encontrar o “intruso”. “Achava que era um mal-entendido do hotel. O Canobbio que falou com ele, e ele saiu do quarto. Pegou o elevador e foi embora. Menos mal que não mexeu em nada, no guarda-roupa ou em tudo. Apenas me trocaram de quarto e vida que segue”, disse o atleta após o empate contra o Mamelodi-AFR, partida de estreia de Ignácio na competição. O potiguar saiu com o troféu de melhor em campo daquele duelo, atuação segura que manteve na rodada seguinte, contra a Internazionale-ITA.
Para a família, no entanto, o momento de estrela ocorre em decorrência de “algo maior”. Damiana Dantas, sogra de Ignácio, é religiosa assim como o genro. Ela disse que a família se emocionou com o relato e acredita que tenha sido uma visita divina antes da estreia do potiguar. “Só pode ter sido. O acesso lá não é fácil e quem conseguiu entrar era um cidadão humilde, assim como Jesus Cristo. Ficamos emocionados e estamos orgulhosos de vê-lo com tanto destaque na competição”, avaliou.
Ignácio é curraisnovense, com origem no Distrito da Cruz, zona rural do município. A comunidade foi mencionada pelo atleta após a vitória contra a Internazionale, em entrevista à Cazé TV. A humildade do jogador foi mostrada ali. “Não temos nada o que falar dele. Ele é aquele cara que vai de casa para o trabalho e o lazer dele é estar com a família. Quando vem de férias, não gosta nem de usar tênis. Passa o dia com a gente de sandálias, atende quem o procura. É o nosso orgulho”, diz o pai Inácio Silva.
Início
O defensor se destacava pela sua altura desde a infância. A família conta que o atleta era treinado para ser goleiro pela mãe por esse motivo, mas que sua primeira oportunidade em escolinhas, peneiras e avaliações foi mesmo como zagueiro. Após algumas avaliações, foi em 2014 que ele chamou a atenção do futebol potiguar. Um jogo festivo de fim de ano mostrou os predicados do então jovem de 18 anos para o ex-jogador Carlos Mota, ídolo do América.
“Joguei ao lado dele e o convidei para treinar no Riachuelo. Dois anos depois, levei ele para ficar alojado no América. Passou 30 dias, mas a comissão não quis ficar com ele”, afirmou o ex-atleta. Após a decepção, veio a redenção. Ignácio fez parte do acesso do Força e Luz no ano seguinte no Campeonato Estadual, marcando o gol do título. Em 2018, repetiu as boas atuações no time elétrico e defendeu o ASSU no segundo semestre na Série D. Mesmo com a eliminação precoce, chamou a atenção do Bahia, para onde se transferiu em seguida.
Após empréstimos a Chapecoense e CSA, Ignácio teve suas primeiras oportunidades, de fato, no tricolor baiano na Série B de 2022. Foi titular em toda a temporada, mas se transferiu para o Sporting Cristal-PER. “Ele orou a Deus, perguntando se era a melhor escolha. A vela foi derretendo e formando uma imagem diferente, como numa santa. Quando ele foi até o estádio, para seu primeiro contato, tinha uma pintura bem grande de Nossa Senhora das Graças, ele lembrou logo da sua oração”, disse Luzineide, mãe de Ignácio, emocionada. Apesar de ter ficado apenas um ano e meio, se tornou ídolo da torcida e recebeu o apelido de “La Muralla”.
A transferência para o Flu veio no início do segundo semestre do ano passado. Agora, o potiguar esta na semifinal do Mundial e joga terça-feira (8), às 16h. Contra o Al-Hilal, sexta-feira, teve a melhor nota na zaga tricolor.
Ayrton Lucas também jogou o Mundial
Com a camisa do Flamengo, outro potiguar esteve no Mundial de Clubes. Ayrton Lucas foi revelado pelo ABC e deixou o Alvinegro em 2015, quando foi para o Fluminense, aos 17 anos. De lá saiu para o Spartak Moscou e depois para o Rubro-negro, onde joga atualmente.
Natural de Carnaúba, onde começou a jogar, o ala saiu para fazer “peneiras” em Caicó, onde chamou a atenção do ABC. No Alvinegro, esteve nas bases até 2014, quando foi promovido ao time profissional do Mais Querido, porém acabou não conseguindo espaço no clube naquele ano. No ano seguinte foi negociado com o Fluminense para reforçar as categorias de base em Xerém, obteve destaque na categoria e passou a treinar entre os profissionais no mesmo ano.
Estreia
Diante do Cruzeiro, no Mineirão, realizou sua estreia como profissional. Em 2016 foi emprestado ao Madureira. Após o término do Campeonato Carioca retornou ao Fluminense. Em janeiro de 2017 mais um empréstimo, desta vez para o Londrina até o fim da temporada. Realizou sua estreia pelo Tubarão diante do Prudentópolis pelo Campeonato Paranaense. Diante do Rio Branco-PR marcou seu primeiro gol pelo Londrina e como jogador profissional em uma vitória por 3 a 0 novamente pelo Campeonato Paranaense.
Foi herói pelo Tubarão diante do Boa Esporte pela Série B marcando um belo gol em um chute de fora da área, empatando o jogo aos 46 minutos do segundo tempo, e assim, garantindo o empate por 2 a 2 no Estádio do Café.
Diante do Atlético Mineiro conquistou seu segundo título como profissional, o da Primeira Liga, o seu segundo, sendo campeão na edição anterior com o Fluminense. Após empatar no tempo regulamentar por 0 a 0, o jogo foi decidido nos pênaltis, Ayrton foi um dos batedores e converteu seu pênalti, e o Londrina se consagrou campeão vencendo por 4 a 2. Daí voltou ao Tricolor para depois partir para a fria Moscou.
Na volta ao Flamengo se firmou e foi titular durante todo o Mundial, disputado nos Estados Unidos.
TN
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