A prolongada ausência de chuvas sobre o semiárido potiguar colocou 144 municípios do Rio Grande do Norte em situação de emergência, reconhecida pelo Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional em março e abril de 2025. Com precipitações muito abaixo da média desde o segundo semestre de 2024, a estiagem já comprometeu por completo as lavouras, devastou as pastagens e empurrou os principais reservatórios para volumes críticos — em alguns casos abaixo de 15 % da capacidade total.
Nos distritos rurais, os impactos imediatos são dramáticos: corte na produção de leite e carne, mortandade de rebanhos, perda de renda agrícola e dependência crescente de carros‑pipa para o abastecimento humano. A Empresa de Pesquisa Agropecuária do RN (Emparn) alerta que 2025 começou com chuvas irregulares — fevereiro registrou apenas “chuviscos pontuais” — e, embora o órgão ainda projete um “inverno dentro da normalidade”, admite que qualquer recuperação será lenta porque o solo perdeu umidade e a evapotranspiração está elevada.
O quadro hidrológico acendeu sinal vermelho: açudes estratégicos como Itans, Pau dos Ferros e Marechal Dutra (Gargalheiras) operam perto do volume morto; canais de irrigação foram temporariamente suspensos para priorizar o consumo humano; e a Caern estuda rodízios de água urbanos se a recarga não ocorrer até junho. Técnicos da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Semarh) lembram que, nos últimos dez anos, eventos de seca prolongada se tornaram mais frequentes e intensos, efeito combinado do aquecimento do Atlântico Tropical e da variabilidade do Pacífico, aumentando a vulnerabilidade hídrica do estado.
Diante desse cenário, especialistas defendem ações de curto e médio prazo:
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Assistência imediata – ampliação dos programas de distribuição de água e cestas básicas às comunidades mais isoladas, uso de poços emergenciais e crédito rural para retenção de rebanhos.
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Gestão adaptativa dos reservatórios – priorizar abastecimento humano, adotar metas de uso racional e acelerar obras de interligação de bacias (caso do Projeto Seridó).
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Fortalecimento da agricultura resiliente – incentivar culturas de ciclo curto e sistemas agroecológicos que toleram déficit hídrico, como palma forrageira e sorgo.
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Infraestrutura de convivência com o semiárido – construção de cisternas, barragens subterrâneas, dessalinizadores e captação de água de chuva em escolas e unidades de saúde.
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Monitoramento climático contínuo – integrar radares, estações pluviométricas e satélites para emitir alertas precoces e orientar políticas públicas baseadas em evidências.
Sem uma resposta coordenada, a crise pode se transformar numa espiral de perda agrícola, êxodo rural e colapso socioeconômico. A estiagem já está aí; a diferença entre desastre e resiliência será a rapidez (e a inteligência) das ações tomadas agora.
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