Sua história não será esquecida pelo seu povo: transposição do São Francisco, sonho de Aluízio Alves, começa a se tornar realidade no RN após mais de seis décadas


Em 4 de abril de 1963, o então governador do Rio Grande do Norte, Aluízio Alves, inaugurava no estado a energia de Paulo Afonso. Visionário, já naquela época ele defendia um projeto ousado: a transposição das águas do Rio São Francisco para abastecer o Rio Grande do Norte, a Paraíba e o Ceará.

Mesmo diante de estudos e projetos realizados, a proposta enfrentava forte resistência de setores que consideravam inviável a execução. Aluízio, no entanto, se preparava para lutar por uma obra que poderia beneficiar cerca de 12 milhões de pessoas no Nordeste setentrional.

Ao deixar o governo estadual, manteve o compromisso com a causa. Em 1986, nomeado ministro da Administração no governo José Sarney, buscou apoio do Serviço de Engenharia do Exército para realizar levantamentos geográficos. O trabalho ganhou força quando, no governo Itamar Franco, Aluízio assumiu o Ministério da Integração Regional.

Determinou à Secretaria de Irrigação, comandada por Bira Rocha, que elaborasse o projeto em seis meses. O engenheiro Rômulo Macedo montou uma equipe de cerca de 300 profissionais e estabeleceu escritórios em Mossoró (RN) e Sousa (PB). O levantamento foi concluído com sucesso.

Aluízio buscou apoio político junto a governadores, recebendo sinal verde da maioria, exceto do então governador de Pernambuco. Mesmo com a promessa de que 35 mil dos 55 mil empregos previstos na primeira fase seriam para pernambucanos, não conseguiu reverter a posição. Apesar de contar com financiamento de 600 milhões de dólares do Banco do Nordeste e do Banco do Brasil, a execução dependia da anuência do governo de Pernambuco.

Com as negociações travadas, Aluízio conseguiu entregar o projeto a Itamar Franco apenas poucos dias antes do fim do mandato presidencial. O sucessor, Fernando Henrique Cardoso, prometeu executá-lo, mas não cumpriu.

Em 5 de abril de 2005, um ano antes de sua morte, Aluízio publicou um artigo defendendo o projeto, então denominado oficialmente Projeto de Integração do São Francisco. Ele ressaltava que o objetivo era garantir segurança hídrica e desenvolvimento social e econômico para uma população de 12 milhões de pessoas, tornando perenes rios da Paraíba, do Rio Grande do Norte e do Ceará.

Somente no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva o projeto avançou. Lula, que conhecia de perto a realidade do sertão, afirmou que a transposição impediria que crianças continuassem bebendo a mesma água que o gado. O volume necessário representaria apenas 1% do que o São Francisco despeja no Oceano Atlântico.

Hoje, mais de 60 anos após a concepção inicial, o sonho de Aluízio Alves começa a se concretizar. O Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional autorizou o início do fluxo de águas para o Rio Grande do Norte neste mês de agosto. O trajeto começa em Cabrobó (PE), na Estação de Bombeamento EBI-1, passando pela Estação de Controle Caiçara, na Paraíba. A vazão inicial de 10 mil litros por segundo (10 m³/s) será elevada para 12,5 m³/s no Túnel Engenheiro Avidos, dos quais 10 m³/s seguirão para o território potiguar.

A água percorrerá mais de 400 quilômetros até abastecer a Barragem de Oiticica, em Jucurutu, e a Armando Ribeiro Gonçalves, entre Itajá, São Rafael e Jucurutu, na bacia do Rio Piranhas-Açu.

O Governo do Estado, por meio do Instituto de Gestão das Águas do RN (IGARN), teve papel central na articulação e solicitação da operação do projeto junto ao Governo Federal.

“A transposição das águas do Rio São Francisco é parte importante das ações de quem trabalha para levar dignidade, vida e esperança às pessoas. É água nas torneiras, nas plantações e aos animais”, destacou o IGARN.

Assim, um projeto sonhado por Aluízio Alves em 1963 finalmente começa a transformar-se em realidade, marcando um capítulo histórico para a segurança hídrica e o desenvolvimento do Rio Grande do Norte.



Postar um comentário

0 Comentários