Na década de 1970, a praia de Ponta Negra, em Natal, era um refúgio ainda tranquilo, cercado por dunas, vegetação nativa e o eterno vigia: o Morro do Careca. Era uma época em que a cidade crescia devagar, mas a cultura popular pulsava forte. E ali, entre o mar verde e o céu azul do litoral potiguar, outro espetáculo chamava a atenção: o colorido dos carros estacionados à beira-mar.
Naqueles tempos, a praia não tinha os calçadões modernos nem as avenidas largas de hoje. Os carros chegavam perto da areia, muitos estacionados ao longo de ruas de barro batido. Fuscas em tons de azul anil, verde musgo, vermelho ferrugem e amarelo ouro dividiam espaço com kombis psicodélicas, Brasília bege, Opalas metálicos e o onipresente Jeep Willys, sempre coberto de sal e areia. Eram verdadeiros retratos móveis de uma década marcada pela ousadia estética e pelo espírito livre.
A moda automotiva refletia o momento: formas arredondadas, cores vivas, cromados reluzentes. Para muitos natalenses e turistas, chegar à Ponta Negra dirigindo um carro colorido era quase um gesto de afirmação — uma forma de se destacar na paisagem e celebrar o prazer simples de um domingo à beira-mar. Não era raro ver os donos dos carros lavando-os com baldes d’água tirados diretamente do mar, sem qualquer preocupação ambiental, pois o pensamento ecológico ainda engatinhava.
À sombra de toldos improvisados e cadeiras de lona, os carros se tornavam parte do cenário. Crianças brincavam em volta, casais posavam para fotos encostados nos para-choques, e os vendedores ambulantes circulavam oferecendo picolés, água de coco e castanha de caju torrada. Os carros coloridos eram como extensão da personalidade de seus donos — cheios de vida, histórias e poeira das estradas do interior.
O colorido da praia de Ponta Negra nos anos 70 não vinha só do céu e do mar, mas também desse desfile espontâneo de veículos cheios de estilo, alma e memória. Hoje, restam as fotos desbotadas e as lembranças de um tempo em que tudo parecia mais livre, mais simples e, talvez, mais bonito.
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