A Hipocrisia do Poder no Brasil


Vivemos em um país onde os privilégios parecem ter endereço certo: Brasília. Para os políticos e banqueiros, tudo é possível. Já para o cidadão comum, especialmente os mais humildes, sobra a burocracia, o desprezo e o abandono. A disparidade entre o que é permitido aos detentores de poder e o que é negado ao povo escancara uma ferida moral e ética que insiste em não cicatrizar.

Vejamos os exemplos: aviões da Força Aérea Brasileira (FAB), mantidos com o dinheiro do contribuinte, são usados para transportar Ministros de Estado a leilões de cavalos, membros da Suprema Corte a jogos de futebol, ex-presidentes estrangeiros condenados por corrupção, e até figuras políticas conhecidas por sugar os cofres públicos em viagens de lazer nos finais de semana. Tudo isso acontece às vistas de todos, como se fosse natural. Como se o Brasil fosse uma terra onde a regra vale apenas para quem está fora do jogo do poder.

Recentemente, soubemos que a deputada Érika Hilton (PSOL-SP) realizou uma cirurgia no nariz por motivos médicos — episódios recorrentes de sinusite crônica. O procedimento teve parte funcional reembolsada pela Câmara dos Deputados: R$ 24,7 mil dos cofres públicos. A regra permite, claro. Mas o que é permitido nem sempre é moral. O mesmo Congresso que aprova esses reembolsos nega direitos básicos a milhões de brasileiros. Para os políticos, há sempre uma brecha, um artigo, um parecer. Para o povo, sobra a fila do SUS e a espera por justiça que nunca chega.

Mas talvez o mais cruel seja ver que, enquanto se permite gastar dinheiro público com conforto e luxo de autoridades, transportar o corpo de uma cidadã humilde de volta ao seu país — para ser enterrada ao lado dos seus — é considerado ilegal. A frieza dessa lógica beira o desumano. Afinal, que país é esse que facilita o privilégio e criminaliza a compaixão?

A hipocrisia institucionalizada no Brasil parece não ter fim. A cada novo escândalo, a cada nova exceção feita aos poderosos, aumenta a distância entre o Brasil real e o Brasil da elite política. Até quando?

A resposta talvez esteja nas urnas, na rua e na consciência de cada brasileiro. Porque se não há limites para o absurdo, que pelo menos haja voz para a indignação.

Por-EdvanBarreto


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